sexta-feira, 8 de junho de 2012

Conhecendo o Parque Nacional de Ubajara (CE)

Um pouco sobre a cidade e o Parque Nacional de Ubajara...

"Ubajara, conhecida por abrigar o menor Parque Nacional do País, é um oasis verde com clima fresco (17-28ºC) a quase 900 m acima do nível do mar na Serra da Ibiapaba ou Serra Grande. Esta se levanta abruptamente do sertão quente a 300 km a oeste de Fortaleza no caminho de Teresina (200km de Jericoacoara, 500 km de Canoa Quebrada). Muitos dias começam com neblina o que favorece uma vegetação de mata atlântica com predominância da palmeira babaçu. Além da famosa gruta para onde leva um teleférico, tem muitas trilhas e cachoeiras também fora do Parque Nacional. A cidade mais antiga da região, Viçosa-do-Ceará, situada esplendidamente nas encostas da Serra, fica a 50 km, a Bica do Ipú (120 m de altura) a 75 km e o Parque Nacional de Sete Cidades no Piauí com formações rochosas fantásticas e pinturas rupestres a 130 km - os três servindo muito bem para excursões de um dia. Tem também muitos mirantes com vistas sobre o sertão e outras montanhas até o horizonte longínquo."

"O Parque Nacional, criado em 1959 para preservar a famosa Gruta de Ubajara e também a fauna e flora dos ecossistemas de caatinga e mata úmida que formam um ambiente de transição na Serra da Ibiapaba, lá a vegetação varia desde a Caatinga do Cerrado até espécies da Floresta Equatorial. Existem várias trilhas no parque onde é possível encontrar cachoeiras, rios bons para banho, e formas variadas de vegetação. De Janeiro até Abril é a época de chuvas, quando tudo na serra, inclusive as vistas do sertão em baixo, fica verdejante. Nos meses mais secos, outubro e novembro, o parque destaca-se como um verdadeiro oásis verde no meio do sertão cearense. Entre os animais, são freqüentemente encontrados morcegos (na gruta), grupos do mico-estrela e do macaco-prego, cotias, tamanduás, tatus, e várias especies de serpentes. Outro grupo com grande variedade de espécies é o das aves, com espécies como gavião-casaca-de-couro, cara-cará, acauã, quiri-quiri, e urubu-rei. Há grande quantidade de répteis, como iguana, teiú e cobra coral verdadeira."

(Texto retirado do site: http://www.portalubajara.com.br/index.html)

*****

A Ida para Ubajara foi motivo de euforia entre os alunos, finalmente iriamos conhecer de perto como funcionava um Parque Nacional, nada melhor para os estudantes do que conhecer de perto algo que você estuda todos os dias. A caminhada do dia anterior não passava por nossas cabeças de tanta ansiedade (a aula de campo á Portalegre havia sido no dia anterior).

Foto retirada do Google Maps. Caminho percorrido (em roxo) 
de Mossoró (ponto B) á Ubajara (ponto A)

Ubajara localiza-se a mais ou menos 580 km de distância de Mossoró, partimos por volta das 6 da manhã, chegaríamos ao nosso destino por volta das 5 ou 6 horas da tarde. Informo a todos que devido a aproximação da Serra o trânsito fica um pouco tumultuado, a velocidade deve ser reduzida e o motorista deve aumentar a sua atenção na estrada, percebe-se um fluxo grande de caminhões e carretas, além da estrada tornar-se cada vez mais estreita e com curvas acentuadas. Conseguimos chegar na estrada do inicio da Serra no final da tarde, observando a paisagem pela janela do ônibus pode-se perceber que esse lugar é bastante diferente do que estávamos habituados, vegetação alta e densa, bem diferente da Caatinga que vimos durante todo o caminho até a aproximação da Serra de Ubajara. 

Trecho da estrada da Serra de Ubajara


Vista da Serra através da janela do ônibus  

Não resisti e abri a janela! Queria sentir a brisa desse fantástico lugar.

A cidade de Ubajara na primeira vista mostrou-se bem pacata, simples e sem grandes construções ou edifícios preenchendo as ruas da cidade. Não posso falar se realmente Ubajara é mesmo desse jeito, não andei muito pela cidade, tivemos contato com a cidade apenas na primeira noite na qual saímos para jantar em uma pizzaria (que não lembro o nome) no centro da cidade. A noite foi bem tranquila, o hotel em que estávamos era confortável, tinha piscina e um espaço para jogar vôlei e podíamos "alugar" alguns jogos de tabuleiro para passar o tempo. 

O dia mal amanheceu e eu já estava acordada, tenho esse costume de acordar mais cedo do que o normal quando durmo fora de casa ou quando tenho um compromisso que precise da minha disposição desde cedo. Sai do quarto, com a câmera na mão, sem fazer barulho. Assim que abri a porta vi que uma neblina cobria todo o local, além do frio que fazia uma hora daquelas. 

Área externa do Hotel


Área interna do Hotel, próximo a piscina

Campo de Vôlei

Alguns minutos depois do café da manhã todos estavam prontos para mais uma caminhada. 
O Parque Nacional de Ubajara não ficava muito distante do hotel, minutos depois fomos recebidos pelos funcionários do local.

Sejam bem vindos!

Entrada do Parque Nacional de Ubajara

"A entrada do parque custa 4 R$. Isso inclui a descida com o guia pela trilha até a gruta. Lá se paga mais 4 R$ para o retorno no teleférico. Quando se faz ida e volta no teleférico são 8 R$ mais os 4 R$ do ingresso."


                      
Mais uma mania minha, guardar alguma coisa que pertence aos lugares que visitei, nesse caso, o comprovante de pagamento da entrada no parque.

No dia que fomos para o parque o teleférico estava em manutenção, então teríamos que descer e subir toda a trilha. Que tristeza! Queria tanto ter andado de teleférico, no qual teríamos uma vista panorâmica do parque. Mas tudo bem. A vista do mirante era espetacular!



Vista do Mirante do Teleférico

Seguimos o guia até a entrada da primeira trilha faríamos. Recebemos as instruções do guia sobre o que veríamos pela frente e sobre o caminho que íamos seguir.

Foto da placa do Parque Nacional de Ubajara. Em verde a trilha da Samambaia, em vermelho a trilha do Aratucum e em amarelo o trecho do teleférico. 

Inicio da Trilha da Samambaia. Bem convidativo!

A trilha da Samambaia, na minha opinião, não apresentou nenhuma dificuldade no deslocamento. Pode-se ver com clareza as interações ecológicas que ocorrem ao longo desses 3 km (distancia total da trilha da Samambaia). Abaixo de algumas árvores há a apresentação do nome cientifico e nome popular. 

Antes de virar Parque Nacional a serra foi habitada por algumas populações humanas, essas pessoas iniciaram o plantio de vegetação não nativa daquele local, com um ambiente favorável essas plantas iniciaram um processo de competição com as nativas. Agora sob supervisão do ICMBIO essas plantas não nativas estão passando sob um processo de remoção no qual a planta enfraqueça com o passar do tempo. 

Processo de remoção

Ainda há a presença de populações vivendo dentro do parque, estes passaram por um processo de conscientização e agora vivem a favor da recuperação e conservação do parque. Durante a caminhada pela trilha passamos por porcos domésticos, que segundo o guia, pertenciam aos moradores locais.

Ainda na trilha da Samambaia pode-se descer uma rampa (escada pra ser sincera) para chegar na Cachoeira Gameleira, pode-se tomar banho nesse local, há um espaço favorável e sem risco de perigo. 

O caminho da trilha é sempre coberto pelas sombras da vegetação densa. Ouve-se constantemente o canto dos pássaros e o barulho do vento batendo nas folhas. Alguns trechos exigem uma atenção dobrada dos aventureiros, a trilha torna-se um pouco escorregadia devido a presença de filetes de água no meio do caminho.

Trecho da trilha da Samambaia

Trecho da trilha da Samambaia

No fim da trilha da Samambaia há uma especie de banco (foto a seguir) que indica o inicio da segunda parte da trilha, a trilha do Aratucum. Antes mesmo de inicia-la da para perceber que a dificuldade é bem maior. A descida da trilha é mais acentuada, exige mais esforço e atenção dos visitantes. Um aviso, respirar torna-se cada vez mais difícil, o cansaço começa a aparecer e quem não quiser arriscar há outras trilhas leves como a da Samambaia pelo parque. Para não se perder preste atenção nas placas que aparecem ao longo do parque, elas informam o inicio e o fim de cada trilha.

Ultima parada da trilha da Samambaia

A trilha do Aratucum não é bem aquela para observação da vida animal e vegetal, como a descida é cada vez mais acentuada a vegetação fica sempre no topo, ao nosso redor encontramos paredões de rochas que formam um visual rustico e diferente. 

Trecho da trilha do Aratucum, percebe-se a presença de 
rochas cobertas pelo musgo e pequenos filetes de água (lado esquerdo)

A trilha do Aratucum possui uma extensão total de 4km. No meio da trilha passamos pela cachoeira do Cafundó, essa é a cachoeira vista do Mirante do teleférico. Também é possível o banho nessa cachoeira. Para atravessa-lo é preciso passar por um pequeno riacho formado pela cachoeira, use as pedras como apoio, cuidado para não escorregar e molhar os pés (sem querer molhei os meus e o resultado foi de dores nos pés durante toda a volta da trilha).

Cachoeira do Cafundó visto do Mirante do Teleférico

Cachoeira do Cafundó

Travessia da Cachoeira do Cafundó


Fizemos uma ultima parada antes de seguir para a gruta de Ubajara, paramos em um trecho de rio para descansar e comer, ninguém é de ferro e já passava da hora do almoço. Em caminhadas desse tipo leve sempre uma mochila com água, frutas e biscoitos. Eu ia levar um par de tênis extras mais o professor sugeriu não levar pois o peso me incomodaria durante o trajeto (se soubesse que iria molhar os pés...).

Momento de descanso


Seguimos para a parte final da trilha, nesse trecho o chão da trilha é coberto pelas folhas da vegetação então o melhor é seguir o guia. Quando estávamos próximos da gruta ouvimos um som estranho, parecia algo batendo no chão. O guia nos falou que era o som de Macacos-prego quebrando sementes. Tentei de todas as formas registrar esse momento, mas devido a vegetação densa e pela altura que estávamos não consegui vê-los.

Depois desse encontro finalmente havíamos chegado na Gruta de Ubajara. Como o grupo era relativamente pequeno e haviam dois guias entraram todos formando uma fila e parando a cada explicação.

Placa da entrada da Gruta

"A principal atração do Parque é a Gruta de Ubajara, localizada junto a uma encosta, a 535 metros de altura. Sãos nove salões subterrâneos e 420 metros de trilhas iluminadas, totalizando uma extensão de 1120 metros. Um espetáculo geológico maravilhoso, com direito a estalactites e estalagmites, além de acesso e visual aéreo do teleférico."


O chão da gruta é bem escorregadio, cair e ver outras pessoas escorregando é normal. Mas é preciso tomar cuidado para não machucar-se gravemente, um atendimento médico nesse local pode ser complicado e demorado.

Trecho de acesso da gruta

Segundo o guia, em tempos de chuva a gruta pode ser completamente coberta pela água devido ao aumento das águas do rio subterrâneo presente no local. Ele disse também que a área total da gruta ainda não foi explorada completamente, muitos salões são dominados pelas águas impossibilitando o acesso dos pesquisadores.

Presença de estalagmites e estalactites


Cuidado com a cabeça!




                                                       Trechos da gruta 


Dentro da gruta pode-se ver a presença de morcegos, mas eles não apresentam perigo para ao visitantes. Num dado momento as luzes que iluminam a área interna da gruta é desligada, os guias pedem que os visitantes façam silencio para poder sentir como é estar dentro de uma gruta, na escuridão total cercada pelo silêncio. É fascinante esse momento. Ouve-se o barulho do vento percorrendo os salões da gruta, o som dos grilos e o som da ecolocação dos morcegos. Se tiver medo e não quiser fugir desse momento segure na mão de alguém. Faça esse esforço. Prometo que não vai se arrepender!


Rocha esculpida como um sapato, além desta formação pode-se também ver a figura de um cavalo, a imagem de uma rosa, retratos e varias outras formas que a sua imaginação criar


Local onde as luzes são apagadas

A caminhada de volta é mais fácil, você sabe onde e quais são os pontos de dificuldade, mas mesmo assim continua complicada, nesse momento a água deve estar perto do fim e subir é sempre mais difícil. Crie seu próprio ritmo para subir sem muitos problemas, se quiser pode até se separar do grupo e do guia, foi o que eu fiz, me afastei do grupo e segui o caminho sozinha me deparando com alguns colegas no meio do caminho. As dores nas pernas começam a aparecer e novamente surge o problema com a respiração. Não exite em descanar, a cada parada que fizer fique uns 5 minutos tentando regular a respiração e não beba muita água, podem surgir dores abdominais por causa disso. 

Siga calmamente e devagar, curta a paisagem, lembre-se que você esta saindo dali e poderá não voltar tão cedo. Quando passar pelos trechos dos rios e cachoeiras molhe seu corpo, não necessariamente tomar um banho, mas sim molhar o rosto, pernas e braços, isso dará uma carga no seu organismo. 

Os primeiros que completaram o trajeto total dos 14km (7km de descida e 7km de subida) demoraram em média 7 ou 8 horas. Ainda estava tão animada que apostei corrida com outra garota até a porta de entrada do parque.

Assim que sair da trilha do Aratucum procure pela placa que leva a trilha da Samambaia, você perceberá a diferença de dificuldade entre as duas trilhas logo que iniciar a trilha da Samambaia. Aproveite esses últimos momentos para tirar fotos com calma do lugar.

Dentro do parque, em frente a trilha da Samambaia há uma pequena lanchonete, se quiser e se estiver com fome, aproveite.

Primeiros a completar o trajeto das trilhas do Parque Nacional de Ubajara

Ubajara será sempre inesquecível! 
Suas paisagens e sensações tornaram-se um convite para um futuro retorno!
Acho que não somente eu penso assim, mas sim todos aqueles que um dia aventuraram-se pelas suas matas verdes, densas e misteriosas!

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